segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O "(in)correcto" n`Os Lírios - uma primeira abordagem


A minha experiência com o petit-Lenormand, quer individual, quer grupal (nomeadamente nos grupos de facebook) tem-me alertado para o uso indiscriminado de termos como correcto, incorrecto, bem, mal, karma, destino e outros... Sou muito reservado e até imparcial quando a questão é sobre karma, religião ou espiritualidade. A maioria das vezes remeto-me ao silêncio. O conceito de karma, na minha opinião, pode não ser o mais adequado, porque o PLenormand não tem vinculação a religiões ou filosofias, pelo menos na sua essência. A maioria das vezes uso a terminologia psicológica "life-span" (período de duração de vida), com a conotação de "bagagem" adquirida. Subjectividades de lado, pretendo focar-me na carta dos Lírios. Os séculos XVIII e XIX eram caracterizados pela concepção de família vitoriana e judaico-cristã, entendida como um corpus patriarcal, com o paterfamilias, a materfamilias e os liberi. Uso a terminologia latina, porque a concepção de família nos séculos supracitados, pouco diferia da concepção de família dos séculos III-II a. C. Este conceito é risível, hodiendamente, uma vez que o ser humano começa (felizmente!) a ser entendido na sua unicidade num contexto de pluralidade. O Lírio Lenormand, na sua génese, adoptava este conceito de moralidade judaico-cristã, caracterizado por uma candura e comportamento virtuoso quase virginal e dissecado de quaisquer "vísceras" não morais. O lírio aparece também associado à figura mariânica cristã, assexualizada e "politicamente correcta", esposa fiel e subordinada socialmente a um José também ele "assexuado". Neste contexto afloram conceitos-chave do Lírio petit-Lenormand como família, estabilidade, protecção auxílio, suporte e pureza quase "santificada". Contrariamente, o lírio na antiga Hélade e, posteriormente na França, adquiria a conotação de sexualidade expressa, nas figuras mitológicas de Apolo, Jacinto, Perséfone e nos versos de Charles-Pierre Baudelaire. Estes conceitos vão ser assimilados pelo cartão dos Lírios e trazer a sexualidade como um dos significados mais evidentes do mesmo. Entendamos os Lírios como família (não a da instituição religiosa judaico-cristã) e, por extensão, como sexualidade humana manifesta. No método da distância e da proximidade, as cartas à esquerda e sob o Significador são enfraquecidas e as cartas à direita e sobre o Significador têm o seu significado ampliado (recorde-se que o contexto, a proximidade, o afastamento, o "clouded", o "not clouded", a polaridade e a circunvizinhança são também determinantes). Cartas como as Nuvens, o Anel e os Lírios, só para exemplificar as mais proeminentes, também têm a sua interpretação influenciada pela sua posição à esquerda ou à direita da carta do Significador (tomando o mesmo como as cartas 28 ou 29, respectivamente). Onde encontramos, pois, o conceito de "(i)moralidade" do Lírio Lenormand? "Phillipe", no seu BLW de 1846, afirma que " Os Lírios...colocados acima [do cartão] da Pessoa, indicam que a mesma é virtuosa; se [colocados] abaixo da Pessoa, os princípios morais da mesma são dúbios". Sintetizando, sobre a pessoa, a regra tradicional, indica comportamento socialmente aceitável, honestidade e autenticidade e sob a pessoa, comportamento questionável ou mesmo considerado incorrecto na "norma" social. Nestas posições, as cartas hospedadas na circunvizinhança dos Lírios vão prognosticar onde se manifesta o comportamento (in)correcto do indivíduo. (Continua)
Uma óptima semana a todos e uma vez mais o meu obrigado expresso.

Jorge

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